O que é que eu estou aqui a fazer?
Porque é que estamos aqui?
O que é a arte? E o que não é?
Que é a ciência? E o que não é?
Como pode a arte ser mais do que un tipo de entretenimento refinado?
Poderá a ciência ser mais do que uma fonte de comodidade tecnológica?
É isto que procuramos aqui?
Sermos entretidos?
Estarmos confortáveis?
Às vezes, penso que o processo é a unica coisa que vale a pena partilhar, mas como partilhar algo que não foi vivido por vocês?
Isto é um espectáculo. Então, o que é que temos para mostrar ao espectador?
Deixem-me partilhar convosco três ideias principais que guiam o meu trabalho como neuroscientista.
Primeiro: “Nada faz sentido em neurociencia excepto a luz do comportamento.”
Digo isto para enfatizar que estudar o cérebro não faz sentido sem um corpo a agir.
Na verdade, o cérebro evolui para controlar o movimento. De reflexos tipo estímulo-resposta até processos criativos por tentativa-erro, poderíamos dizer que os cem biliões de neurónios que temos na nossa cabeça fazem o nosso movimento progressivamente mais livre.
Segunda: “A ciência procura a universalidade.”
Eu estudei moscas durante quatro anos, analisava o movimento quando procuravam por fruta. O que é que a mosca tem em comum com o rato? E, o que é que nós podemos aprender com o rato que nos ajuda a comprender o que é ser humano.
Aqui, tenho a oportunidade de trabalhar com uma bailarina. Tentamos quantificar as qualidades do seu movimento com as mesmas ferramentas que uso para analizar o rato na caixa de comportamento. Encontramos que no linguagem da imagem é onde qualidade e quantidade poden dialogar.
Terceiro: “Tempo não é espaço.”
Eu não tenho tempo para desenvolver esta idea aqui. Não é simples. No entanto, queria mencioná-lo. Eu sou físico e em física, nós falamos sobre o tempo a toda hora. O tempo entra constantemente nas nossas equações. Mas, apesar de ser tão familiar (como a nossa consciência), parece que não sabemos o que é o tempo.
O tempo não é um ponto no espaço; O movimento não é uma justaposição de imobilidades. Como escreveu Bergson, o tempo é duração. Eu tento incorporar isto no meu trabalho.
Finalmente, gostaria de partilhar as minhas fraquezas e dificuldades neste projeto. Deixem-me só mencionar alguns problemas:
Problema #1:
Eu posso fazer perguntas ao rato, mas ele não me responde. A Sara pode responder-me, mas não objetivamente. Ela sabe, mostra, pode explicar o seu movimento, mas não deixam de ser observações pessoais.
Problema #2:
Quando a Sara mostra o seu objecto artístico, ela procura deixar o maior espaço possível para o público interpretar o seu trabalho. Quando eu construo a narrativa científica ou desenho um experiência, o meu objetivo é o oposto: reduzir o espaço de interpretação.
Problema #3:
O que é que eu vou fazer em palco? Eu trabalho todo o dia em frente ao computador, a analisar dados e pensar ideias abstratas. O que faço precisa de uma base, de explicação, e precisa de mais tempo para ser partilhado e comprendido.
Problema #4:
Parece que a arte contribui para manter “o ipsilon”, enquanto que, como cientistas, temos a tarefa oposta: reduzir o mistério, explicar as coisas. Onde está a sobreposição?
Neste território de arte e de ciência, por vezes não sinto um chão sólido debaixo dos meus pés.
Que é a arte? E o que não é?
Que é a ciência? E o que não é?